domingo, 6 de janeiro de 2008

Eleições presidenciais americanas em análise

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Nos últimos meses, tento tentado esclarecer um pouco do processo eleitoral americano, que é incrivelmente mais complexo – e interessante – que o nosso. Bom, nas próximas semanas, teremos a oportunidade de ver isto funcionando na prática: as primeiras votações irão começar e o assunto irá chegar em nossas revistas e jornais.

Por isso, escrevi este texto que traz tanto uma descrição geral do processo, como análise as tendências eleitorais do próximo mês.



A importância das primárias

Como eu já expliquei anteriormente, nos Estados Unidos, o processo onde cada partido escolhe seu candidato é algo que envolve toda a população e já é visto como parte integrante da campanha oficial. Ao contrário do Brasil, onde esta fase é vista como algo de interesse exclusivo de militantes e chefes de partido, nos Estados Unidos a participação popular já é bastante intensa deste este momento.

Por isso, a eleição começa muito antes da escolha oficial dos candidatos. Enquanto as votações gerais ocorrem no meio do segundo semestre, as eleições internas já ocorrem no início do ano – e, além disso, a campanha pela nomeação oficial começa já no ano anterior. Ou seja, para a eleição oficial que ocorrerá no final de 2008, as chamadas "primárias" – o processo de escolha interna dos partidos – começarão em janeiro de 2008, enquanto a campanha pelas primárias começou no início de 2007 – quase dois anos antes da eleição oficial.

Além disto, cada partido possui várias correntes internas competindo pela liderança do partido e, por isso, estas eleições podem, de fato, mudar o caráter de um partido por décadas. É claro que existem lá, como aqui, alguns líderes que dominam parte da estrutura do partido e usufruem dela – mas este domínio nunca é total, pois inúmeros militantes estão sempre entrando no partido e contestando os líderes atuais. Ou seja, dentro dos próprios partidos existe uma competição partidária – e até ideológica.

O exemplo clássico é a campanha presidencial de Barry Goldwater de 1964. Goldwater tinha uma plataforma bastante conservadora e libertária, criticando com muita dureza o progressismo do Partido Democrata. E, de fato, ele era tão firme em suas posições que boa parte do Partido Republicano preferiu um candidato mais esquerdista: Nelson Rockefeller.

Goldwater perdeu feio na eleição geral – mas fez tanto barulho durante as primárias que mudou a cara do Partido Republicano. Ao vencer a nomeação geral sobre Rockefeller, a campanha de Goldwater acentuou a influência dos conservadores sobre o partido, empurrando-a para a direita.

Esta guinada conservadora do Partido Republicano é consensualmente vista como um dos principais fatores que preparou o partido para nomear Reagan como seu candidato oficial em 1980 – a eleição que o levou à presidência e fez dele um dos grandes líderes conservadores do final do século.

Esta fase inicial da campanha, portanto, longe de ser apenas uma "prévia" da campanha oficial, já é a própria campanha oficial – e suas conseqüências podem se estender muito além da própria eleição.


Como o processo funciona

Como também já expliquei aqui, antes dos partidos elegerem seus candidatos oficiais, é realizada uma série de votações onde cada estado elege os seus delegados que participarão da convenção geral que escolherá o candidato.

O interessante é que, ao invés de fazerem uma única votação nacional, cada estado escolhe a data da sua votação, fazendo com que todo o processo se estenda por meses.

Esta descentralização do dia da votação permite que os candidatos façam campanhas mais focalizadas; gastando mais tempo em estados específicos. Além disto, a demora no processo permite que a avaliação popular seja mais lenta e mais pensada – há tanto tempo entre o lançamento oficial de uma campanha e a convenção oficial que o povo tem inúmeros oportunidades de conhecer e até de se familiarizar com os candidatos.


O calendário: a importância dos primeiros estados

Cada partido tem seu próprio calendário e ele muda um pouco todo ano, mas tantos as mudanças anuais como as mudanças entre os partidos não são importantes, pois todo ano o calendário segue mais ou menos a mesma lógica que veremos a seguir.

Os dois primeiros estados a terem suas eleições são sempre Iowa e New Hampshire – nesta eleição, entre os republicanos, será no dia 3 e 8, respectivamente; entre os democratas será ligeiramente diferente.

Embora numericamente estes estados sejam pouco importantes, os votos nestes dois estados têm um peso enorme na opinião pública, pois assinalam para o resto do país quais são os "candidatos sérios".

A vitória de um candidato menor em um desses estados o leva a aparecer em todos os noticiários nacionais – tornando-o imediatamente um candidato forte nos próximos estados. Igualmente, a derrota em um desses estados pode carimbar o candidato como "fracassado", o que fará os estados seguintes desistirem dele.

Como todos sabem que estes primeiros estados têm uma importância enorme, todos os candidatos investem o máximo de recursos neles. Por isso, estes estados passam por uma superexposição de política, o que leva o resto do país a perceber estas votações como confiáveis balões de teste.

O curioso dessa configuração é que permite que a candidatura de alguém com poucas ligações políticas permaneça viável: basta que ele invista todos os recursos em um desses estados e, depois de vencer nele, utilize sua popularidade recém-conquistada para vencer os próximos.


O calendário II: a virada da "super-terça"

Por outro lado, o calendário eleitoral possui um segundo elemento que muda a balança do jogo em favor dos poderosos e contra os candidatos pequenos: a "super-terça" – como é chamado o dia onde dezenas de estados têm suas eleições simultaneamente e que acontecerá no dia 5 de fevereiro.

A coincidência de múltiplas eleições em um mesmo dia, em um país com a extensão dos Estados Unidos, torna praticamente impossível que um candidato faça uma campanha efetiva em todos eles. Por isso, os candidatos precisam contar com a seguinte combinação: concentrar seus esforços em apenas alguns estados, ter equipes enormes para coordenar diferentes núcleos locais – e esperar ter exposição suficiente na grande mídia para se tornar nacionalmente conhecido.

Um bom exemplo da virada que a "super-terça" pode causar em uma eleição pode ser vista na candidatura Pat Buchanan à presidência 1996 que, após vencer New Hampshire, teve que desistir por não conseguir competir em todos os estados da "super-terça".

A coexistência destes dois elementos – alguns estados isolados votando antes e vários estados votando no mesmo dia – instaura uma tensão em toda campanha: cada um destes pontos pode provocar o fracasso ou o sucesso de uma candidatura.

Ou seja, mesmo um candidato grande, com muito dinheiro e com muita exposição nacional – Giuliani neste ano, por exemplo – pode simplesmente chegar na "super-terça" já derrotado. Por outro lado, um candidato de poucos recursos – um Huckabee ou um Ron Paul – pode ganhar tanto impulso nas primárias que se torne uma força nacional na "super-terça"... ou pode ser que esta força não seja o suficiente, e tenha que desistir da campanha, como ocorreu em 96 com Buchanan.

Enfim: o calendário não beneficia totalmente um lado ou outro: antes, instaura uma tensão dentro da qual cada candidato terá que manobrar.


O que isto significa para esta eleição

A distância entre estas duas datas é a margem de manobra que os candidatos pequenos têm para enfrentar os grandes. Os candidatos de poucos recursos precisam vencer as primeiras primárias e esperar que a exposição que ganhem seja suficiente para alçá-los a personalidades nacionais; enquanto os "grandes" precisam apenas sobreviver até a "super-terça" e esperar que sua superioridade nacional os dê uma vantagem decisiva.

Por causa da combinação destes fatores, ninguém é louco de dizer o que vai acontecer nas eleições americanas. Isso é o mais longe possível que temos de um jogo de cartas marcadas em política – quase tudo pode acontecer.

Do lado dos republicanos, a confusão é total: existem seis candidatos viáveis: Giuliani, McCain, Thompson, Huckabee, Romney e Ron Paul.

Do lado dos democratas, os candidatos sérios são menos numerosos e a coisa está praticamente definida: tratam-se basicamente de Hillary, Obama e Edwards.

Nos dois casos, a lógica é a mesma: os candidatos menores precisam se destacar nacionalmente até o fim de janeiro, senão o favoritismo recairá sobre os grandes candidatos "maiores".

Ou seja, Hillary precisa manter a dianteira apenas por mais um mês e meio, e sua vitória estará consolidada. Dada a pouca habilidade dos seus oponentes – e muita habilidade política sua – é bastante provável que ela consiga isto.

Obama continua sendo o principal obstáculo de Hillary, mas seu tempo está acabando rapidamente: caso ele não consiga uma vitória decisiva em janeiro, ele provavelmente fechará a nomeação no início de fevereiro.


A disputa entre os republicanos

Vamos nos concentrar nos republicanos, onde a coisa está mais confusa – e, portanto, mais divertida.

Há algumas semanas, eu já dizia que só havia seis candidatos sérios: agora, a coisa está confirmadíssima, pois o sexto que citei então – Huckabee – disparou para os primeiros lugares, enquanto os demais candidatos desapareceram em total obscuridade.
Entre os seis candidatos republicanos sérios, existem três candidatos com intensa presença nacional, com muita exposição na grande mídia e com fortes contatos políticos: Giuliani, McCain e Thompson – vamos chamá-los, por enquanto, de "candidatos nacionais".

Estes três candidatos, em parte por já terem uma sólida presença nacional, optaram por uma estratégia semelhante: estão fazendo uma campanha nacional e estão dando menos atenção aos primeiros estados que votam. Ou seja, eles sacrificaram Iowa e New Hampshire, para apostarem tudo na "super-terça".

É verdade que, ao longo da campanha, alguns deles mudaram um pouco o foco: McCain passou a investir mais em New Hampshire e Thompson tem dedicado bastante tempo à Iowa. No entanto, no geral, a estratégia dos três é a mesma: se sair apenas razoalvemente bem nas primeiras votações e esperar uma grande vitória na "super-terça". Uma estratégia, aliás, pouquíssimo tradicional na política americana.

Os outros três candidatos – Romney, Huckabee e Ron Paul – estão seguindo a estratégia tradicional: apostar quase tudo nos primeiros estados e esperar ganhar exposição o suficiente para vencer os demais candidatos na "super-terça". Vamos chamá-los de "contestadores"

Ou seja: o resultado está totalmente incerto – mas em breve veremos definições.

No dia 3, em Iowa, o conflito importante é entre Romney e Huckabee. No dia 8, o conflito importante é entre Ron Paul e o resto da competição. Cada um desses três candidatos precisa ficar entre os primeiros lugares, caso queira ser o próximo presidente.

Os outros três precisam apenas de apresentações razoáveis o suficiente para continuarem parecendo candidatos viáveis até o início de fevereiro – o que é mais difícil do que parece.

Certamente veremos várias desistências nas próximas semanas. Em breve, todos os "candidatos menores" sairão de jogo; em seguida, os "candidatos sérios" citados acima começarão a desistir, um por um. No final de fevereiro, restarão apenas dois ou três competindo.

Como nas próximas semanas estará em jogo especificamente o combate interno entre os que estão seguindo o caminho tradicional, farei uma exposição individualizada da situação de cada um deles.


Os contestadores republicanos: Romney

Romney, apesar de ser um candidato bastante conhecido nacionalmente, entra nesta categoria por dois motivos: ele nunca conseguiu subir muito nas pesquisas nacionais e optou conscientemente por investir todas as suas fichas nos primeiros estados.

Apesar de ser filho de um político importante, o forte da carreira de Romney foi na iniciativa privada com um bem sucedido empresário. Romney utilizou este fama de administrador eficiente como trunfo eleitoral, sempre procurando parecer um sujeito dinâmico, pragmático e eficiente.

Esta estratégia o fez governador de Massachusetts, mas ele nunca conseguiu convencer a direita, por parecer pouco firme em seus princípios. Depois de hesitar muito em questões importantes para os conservadores – como a legalização do aborto e casamento de homossexuais – ele ficou com fama de "flip-flopper" – de mudar constantemente de lado conforme a platéia.

Ainda assim, ele tem conseguido recuperar algum respeito entre os conservadores, insistindo que, apesar das dúvidas do passado, agora ele é decididamente um "homem da direita". Esta conveniente "conversão" de última hora não convenceu muita gente no início, mas, com o tempo, ele conseguiu apoios importantes – incluindo o apoio oficial da "National Review", uma das revistas conservadoras mais tradicionais, e de importantes líderes religiosos.

Romney optou por uma estratégia bastante tradicional - investiu milhões de dólares em Iowa e New Hampshire – e tem se saído bem deste modo: nos dois estados, ele aparece entre os primeiros lugares.

Por ter investido tão pesadamente nestes estados, é absolutamente essencial que ele fique entre os dois primeiros em cada um deles. Caso Romney saia derrotado depois de investir tanto tempo e dinheiro, sua campanha sairá tão desacreditada que não duvido que ele desista dias depois.

Por outro lado, se ele ficar entre os primeiros, se tornará o franco favorito a se tornar o próximo presidente. Entre os "contestadores", ele é o que tem mais capacidade para potencializar uma vitória nos primeiros estados.

Romney tem uma equipe competente, recursos financeiros e uma imagem extremamente presidencial – com a exposição decorrente de uma eventual vitória dupla nos primeiros estados, sua campanha ganhará tanta força que dificilmente alguém irá impedi-lo de se tornar o próximo presidente dos Estados Unidos.

Em duas semanas, portanto, saberemos qual será o destino de Romney: uma vitória ou uma derrota em Iowa e New Hampshire definirão o futuro de sua campanha.


Os contestadores republicanos: Huckabee

O principal obstáculo à presidencial de Romney é Huckabee, o ex-pastor que, com uma forte retórica religiosa caiu nas graças dos "social conservatives", os conservadores religiosos - aqueles que votam motivados principalmente por questões morais, e que formam boa parta da base espontânea dos republicanos – o "ativismo grassroots".

A base religiosa do partido republicano é extremamente organizada e ativa, mas não tinham um candidato que a representasse fielmente. Talvez ainda não tenha, mas, na falta de um candidato melhor, escolheu Huckabee como representante – e não há duvidas que o sucesso do ex-pastor se deve inteiramente a este apoio.

Huckabee, no entanto, tem sérios problemas nesta eleição. O mais grave é a total rejeição que os "fiscal conservatives" - os conservadores em questões econômicas - sentem por ele. Huckabee não apenas aumentou notoriamente os impostos durante seu período como governador como tem se mostrado um fraco defensor do livre-mercado. Carregando na retórica populista, Huckabee ganhou o apoio dos religiosos, mas certamente perdeu o apoio dos liberais, no sentido econômico da palavra.

Além disto, Huckabee tem feito sua campanha com uma estrutura muito pequena e de poucos recursos. Para sobreviver à "super-terça", Huckabee precisa arrecadar muito mais dinheiro e conseguir ainda mais exposição na mídia nacional. A princípio, isso é inteiramente possível – mas seria muito mais fácil se a ala liberal dos republicanos não o rejeitassem tanto.

O futuro de Huckabee poderá ser vislumbrado já no próximo dia 3: nas eleições de Iowa.

Iowa é o estado onde o voto religioso tem mais peso – e, por isso, lá estão as melhores esperanças de Huckabee. Ao contrário de Romney e Ron Paul, ele não pode esperar até New Hampshire: se ele não vencer em Iowa, não vencerá em outro lugar. Por isso, o primeiro confronto importante desta eleição é entre Huckabee e Romney – os dois precisam vencer Iowa para continuarem na campanha.

Embora Huckabee esteja menos preparado do que Romney para potencializar estes primeiros resultados, uma vitória aumentará muito sua importância na campanha. Se ele vencer, ele se tornará um dos favoritos – e, mesmo que não se torne o candidato oficial, provavelmente será convidado a compor o próximo governo.


Os contestadores republicanos: Ron Paul

Em muitas maneiras, a campanha de Ron Paul é parecida com a de Huckabee: são dois candidatos com pouco dinheiro, com pouca expressão nacional, mas que continuam crescendo basicamente por causa do "grassroots", das redes espontâneas de ativismo político. Por outro lado, elas são totalmente diferentes em outros aspectos – e estas diferenças são muito interessantes.

Ao contrário de Huckabee, Ron Paul não tem um "público-alvo" específico: seu apoio vem de diferentes grupos sociais e políticos. Alguns se interessam pelo seu não-intervencionismo em política externa, outros pela sua defesa dos direitos individuais e outros, ainda, por ele ser o candidato que quer reduzir mais radicalmente o tamanho do governo.

Além disto, em termos financeiros, Paul tem crescido de maneira surpreendente: seus militantes organizaram dois dias nacionais de doação, arrecadando mais de 4 milhões de dólares da primeira vez, e mais de 5 milhões na segunda.

Sem falar que ele tem uma das militâncias mais entusiasmadas e criativas que eu já vi. Para terem uma idéia da empolgação do pessoal, saibam que eles simplesmente arrecadaram centenas de milhares de dólares para criar um dirigível para Ron Paul. Vejam o link e me digam se já viram coisa parecida: www.ronpaulblimp.com

Este entusiasmo pela campanha de Ron Paul faz dela um fenômeno totalmente diferente da de Huckabee – e muito mais interessante.

Huckabee é um candidato que foi recrutado pelos "social conservatives"; ou seja, ele não tem apoio próprio; é apenas o representante de um movimento pré-existente. Ron Paul, por outro lado, é um caso totalmente diferente: ao redor da sua candidatura está se formando um novo grupo de "grassroots"; pessoas que nunca se envolveram na política estão montando redes de contato e organizando ações muito efetivas.

A candidatura de Ron Paul, portanto, não é apenas uma candidatura: é um verdadeiro movimento; estamos vendo um novo grupo político se organizando e uma nova geração de ativistas se formando.

Ainda é cedo para dizer o que acontecerá com este movimento; talvez ele se fragmente e perca sua força após esta eleição, mas a alternativa mais provável é que – após a provável derrota de Ron Paul – o grupo encontre formas de se organizar e de se preparar para influenciar as eleições futuras.

Por isso, o caso de Ron Paul é muito peculiar entre os candidatos: ele é o único que, mesmo que saia derrotado da eleição, terá criado um movimento que irá ultrapassar toda esta campanha – e que provavelmente sobreviverá ao seu fundador.

Como a campanha de Ron Paul é, ao mesmo tempo, um movimento político e uma eleição presidencial, ela precisa ser analisada em dois níveis diferentes: o nível eleitoral e o nível da influência a longo prazo. Mesmo que ele perca a eleição, sua influência pode continuar – e crescer – nos próximos anos.

No nível eleitoral, Ron Paul precisa vencer em New Hampshire para ter chances de ser o próximo presidente. New Hampshire é um estado onde a idéia de liberdade é extremamente forte e, sendo esta a principal bandeira de Paul, foi lá onde ele investiu a maior parte dos seus recursos. Ron Paul tem feito uma campanha bastante intensa na região: fez várias visitas, fez campanhas de rádio e televisão e tem um grupo de ativistas no local bastante ativo.

Caso Ron Paul fique em primeiro ou segundo no estado, a mídia começará a considerá-lo um candidato sério e ele terá boas chances de se sair bem na "super-terça". Ele provavelmente terá pouco dinheiro para coordenar campanhas em todos os estados, mas seus militantes são tão ativos e organizados que provavelmente farão um belo trabalho paralelo à campanha oficial.

Por outro lado, mesmo que ele saia derrotado de New Hampshire, ele dificilmente desistirá de sua candidatura. Afinal, ele não se candidatou para vencer as eleições – isso parecia totalmente impossível há alguns meses -, mas sim, para divulgar suas idéias. Mesmo que pareça totalmente possível se tornar o próximo presidente, ele provavelmente continuará na campanha somente para influenciar o debate.

Ou seja, a campanha de Ron Paul já não tem como foco a vitória política, mas a ação cultural: difundir suas idéias e formar uma nova geração de militantes. Obviamente, ele não pode declarar isso, porque tiraria toda a energia de sua campanha, mas mesmo seus admiradores – nos quais eu me incluo – sabem que suas chances de vitória são mínimas.

Resumindo: Ron Paul precisa se sair bem em New Hampshire para ter chances de ser o próximo presidente – a mesma situação que Huckabee enfrenta em Iowa. Por outro lado, mesmo que saia derrotado, ele continuará na campanha para solidificar sua base de apoio e aumentar sua influência.

A campanha de Ron Paul tem sido muito comparada com a de Goldwater em 1964: uma derrotada política, seguida por uma vitória cultural. Será que a comparação procede? Pessoalmente espero que sim – mas só o tempo dirá.


Cenários prováveis

Existe um bom motivo para não fazer previsões políticas: ninguém pode ter certeza do que vai acontecer quanto decisões humanas estão em jogo; dado o grau de liberdade que os agentes possuem, é muito fácil fazer apostas erradas. Ainda assim, serei imprudente e colocarei abaixo minhas previsões dos cenários mais prováveis.

1) Se Romney vencer em Iowa e New Hampshire, ele provavelmente será o próximo presidente dos Estados Unidos. Ele deve vencer a maioria dos outros estados e, depois, não terá muita dificuldade em vencer Hillary nas eleições gerais.

Por outro lado, se ele perder nos dois estados, está fora da campanha.

2) Mesmo que Huckabee fique em primeiro lugar em Iowa, isso não é garantia de que ele será o próximo presidente. Ele certamente vai se tornar um candidato influente, mas tudo ficará aberto pelos próximos meses.

Se ele for derrotado em Iowa, ele também cairá fora da campanha – talvez mais rápido do que Romney, por ter menos dinheiro para sustentar a vaidade de continuar aparecendo em rede nacional.

3) Ron Paul dificilmente será o próximo presidente – para minha infelicidade pessoal, pois, como vocês já perceberam, ele é de longe meu candidato preferido -, mas para que ele tenha alguma chance, ele precisa ficar bem posicionado em New Hampshire. O cenário ideal para Paul é ficar em terceiro em Iowa e em primeiro em NH. Caso isso ocorra, talvez ele tenha alguma chance de chegar às eleições gerais.

O mais provável, no entanto, é que ele não se saia tão bem nesses estados, mas que ainda assim continue na campanha para divulgar suas idéias – e, depois de terminada a campanha, ele provavelmente terá muito trabalho como líder de um novo grupo político.