quarta-feira, 31 de outubro de 2007

No paíf do futebol

Antes mesmo da comunicação oficial, por parte da FIFA, que a Copa do Mundo de 2014 seria realizada no Brasil, em diversas cidades brasileiras já começava a algazarra.

Em plena terça-feira, em São Paulo, mais de 500 pessoas se agruparam em frente ao Teatro Municipal vestido de verde e amarelo (isso mesmo, leitor, quem estava vestido era o Teatro!), com direito a chuva de papel picado, fogos de artifício, 20.000 balões e telão. Essas pessoas acompanharam apresentação da peça "Match Gol", da companhia Intrépida Trupe e ganharam camisetas com as cores do Brasil, faixas para a cabeça e bandeiras. À noite, para completar a euforia, luzes verdes e amarelas no Parque do Ibirapuera.

No Rio, as "atividades" aconteceram no Maracanã, no Cristo Redentor e no Pão de Açúcar. Nos três monumentos foram estendidas faixas com a mensagem: "A Copa de 2014 é nossa". Ainda vestiram o Morro da Urca com uma camisa gigantesca com a mesma frase. E todos os participantes também devidamente uniformizados.

Em Brasília, Belo Horizonte e Manaus, manifestantes vestidos de verde e amarelo também foram reunidos em praças públicas.

Em Zurique, Suíça, a delegação brasileira, que já havia sido apelidada de "trem da alegria", contava com nada menos que Lula da Silva, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, 12 governadores estaduais, o ministro do Esporte, Orlando Silva, a ministra do turismo, Marta Suplicy, o senador Marconi Perillo, o escritor Paulo Coelho, o atacante Romário e o técnico da seleção brasileira, Dunga.

Seria de se estranhar se uma comitiva desse nível não nos proporcionasse momentos de mais puro constrangimento. Pra começar, com a palavra o presidente da Fifa, Joseph Blatter:

"Fiquei impressionado. Não deveria, mas vou dizer. Estou impressionado com toda a preocupação ecológica e com o fato de terem trazido para cá Paulo Coelho. Ele tem um senso de humor específico. Isso é o futebol".

Lula também não deixou passar a chance de ser infantilóide e mentecapto. Disse que o país "fará uma Copa para argentino nenhum botar defeito", que "saberá fazer a lição de casa" e que provará ao mundo que, apesar de ter problemas, o "paif" tem "homens determinados a resolvê-los". E o que mais irá empolgar os visitantes será o "comportamento extraordinário do povo brasileiro."

Ao menos dessa vez fomos poupados do redundante e famigerado "nunca ântef nefe paíf"...

Perguntado pela BBC Brasil se era justificada a presença de uma delegação com tantos representantes do alto escalão do Executivo, Aécio Neves respondeu: "É uma questão de opinião. Nós que estamos aqui achamos que sim".

Voltando ao mundo real, vamos atentar a alguns fatos que não foram percebidos pelo lobby governista nem pela FIFA.

Teremos que arcar com uma dívida de, no mínimo, R$10 bilhões para modernizar estádios e em obras de infra-estrutura. Mas previsões de gastos não são o forte do poder público, basta lembrar os Jogos Panamericanos, cujo valor inicial foi superado em 13 vezes (orçada inicialmente em R$ 386 milhões, chegou a R$ 5 bilhões) e a injeção de dinheiro público foi 8 vezes maior que a prevista, com obras atrasadas, atrasos nos salários dos empregados, com o evento às portas da cidade.

Tampouco foram considerados pela FIFA os caóticos problemas na infra-estrutura do transporte aéreo, a falta de uma rede ferroviária, o transporte baseado em ônibus, a péssima condição das rodovias e a carência de serviços fundamentais como hospitais (um dos únicos a ser visitado foi o Albert Einstein, em São Paulo). Os auditores da FIFA não chegaram a ir aos aeroportos; apenas receberam os relatórios do governo. Algumas cidades têm, ainda, problemas com a rede hoteleira.

E, para finalizar, deixo aqui duas questões:

Quem financiou as manifestações de comemoração Brasil afora? Estou certo que não foram espontâneas. Quem pagou as bandeiras, os fogos, as camisetas, os ônibus, o lanchinho, os carros de som, os balões, os "torcedores"? Quem teve o mal gosto de "vestir" o Teatro Municipal, o Morro da Urca e o Cristo Redentor com um camisetão verde e amarelo??


E, por fim, atentem ao logotipo da Copa de 2014. Vejam que interessante: o 2 é amarelo, o 0 é azul e branco, o 1 é verde e o 4 é... vermelho!!! Por que raios o vermelho em destaque, o que a cor vermelha representa no símbolo nacional? Uma demonstração explícita da cara-de-pau dos petralhas? O sangue das dezenas de milhares de mortos anualmente no Brasil, vítimas da violência, da impunidade, da falta de infra-estrutura, de fiscalização, da morosidade de um sistema judiciário vergonhoso, do caos aéreo, da incompetência administrativa da esquerdalha? Ou o sangue dos cem milhões vítimas do comunismo?
Talvez seja somente para lembrar a estrela vermelha que D. Marisa mandou plantar outrora nos jardins da Alvorada.

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